A preservação da informação ao longo do tempo sempre foi um desafio significativo para a humanidade e, apesar de nossos avanços tecnológicos, ainda precisamos desenvolver uma forma verdadeiramente permanente de registro.
Este artigo foi escrito pela Genevieve Adeline, assistente de informação na biblioteca de direito de Linklaters. Genevieve recebeu uma bolsa em 2017 para participar da Conferência de Livros Especiais e Coleções Raras CILIP.
Nossa melhor solução foi criar várias cópias armazenadas em vários locais, na esperança de que pelo menos uma das cópias sobrevivesse, essa também era a solução da Charlemagne há 1.200 anos.
A grande maioria da literatura clássica que sobrevive até hoje é resultado da versão medieval de Carlos Magno de uma rede de compartilhamento de arquivos peer-to-peer que envolvia o transporte seguro de textos entre monastérios para serem copiados e armazenados.
- Descobertas Científicas Perdidas
A dificuldade e o custo de preservar a informação têm sido um problema particular para a ciência, já que descobertas e desenvolvimentos foram repetidamente perdidos no tempo e o trabalho teve que ser iniciado novamente do zero.
Um excelente exemplo disso é o trabalho do matemático Hero of Alexandria, do século I (D.C.), que inventou a tecnologia pneumática e eólica, um motor a vapor, uma máquina de venda automática que funciona com moedas e um carrinho autocuidado programável (entre outras coisas).
- Perspectiva enviesada
Além da perda de descobertas científicas, a incapacidade de preservar registros resultou em uma perspectiva distorcida da história social, pois só podemos basear nosso conhecimento nas informações que sobreviveram.
Na conferência CILIP Rare Books e Special Collections Group, realizada em Brighton em setembro de 2017, vários palestrantes fizeram comentários que demonstraram a importância dos registros físicos para manter a integridade do registro histórico.
Giles Mandelbrote, bibliotecário da Biblioteca do Lambeth Palace, comentou que o roubo de livros da Biblioteca mudou a percepção da coleção durante os 40 anos até o seu retorno.
A ausência dos livros mais comercialmente atraentes fez parecer que os colecionadores tinham uma faixa de interesses mais restrita o roubo não apenas tornava certos livros indisponíveis,
- Desbloquear Histórias Escondidas
A Arquivista de Mídia Stacey Anderson, do South West Film and Television Archive, argumentou que os registros visuais do passado podem revelar histórias ocultas para as quais não há outro registro, especialmente porque uma grande parte da mídia visual existente existe.
Criado por amadores. Podemos ver um exemplo disso na história de Vivian Maier, a babá cujo trabalho prolífico como fotógrafo de rua só veio à luz postumamente depois que o conteúdo de sua unidade de armazenamento foi leiloado.
Maier tirou mais de 150 mil fotografias nas ruas de Chicago e Nova York, concentrando-se nas pessoas à margem da América urbana de meados do século – sua escolha de temas possivelmente influenciados por seu trabalho doméstico.
A fotografia e a mídia cinematográfica são métodos relativamente novos de registrar nossas vidas e a maior parte de nossa evidência do passado existe na forma de texto escrito. Isso significa que há um viés significativo em relação às experiências de pessoas instruídas em posição de criar registros que outros consideram dignos de preservação em sua própria época.
Vemos a maior parte do passado através das lentes do grupo social dominante, e o resultado é que as vozes minoritárias, oprimidas ou desprivilegiadas estão ausentes ou são relatadas por aqueles que estão fora do grupo.
Se olharmos para a forma como os contos populares narrativas orais originadas pelas comunidades da classe trabalhadora foram preservados como contos de fadas (versões de contos folclóricos editados ou reescritos por indivíduos de classe média e alta), podem ver como a confiança no grupo dominante resulta em uma perda de contexto.
- Editando História
Outro problema que distorceu nossa visão da história é a necessidade de certos grupos manterem um nível de sigilo, levando à percepção de que os grupos minoritários eram menores do que realmente eram.
O problema da falta de registros é composto por pessoas intencionalmente obscurecendo histórias que eles consideram escandalosas como foi o caso de Anne Lister, uma proeminente proprietária de Yorkshire do começo do século 19 que era abertamente lésbica.
Lister mantinha um diário (parcialmente escrito em código) que explicitamente detalhava seus relacionamentos românticos, mas quando eles foram lidos pela primeira vez na década de 1890 eles foram escondidos (com um dos leitores sugerindo que eles deveriam ser queimados) e eles não foram descobertos novamente até os anos 80.
- Autenticação Física de Registros Digitais
Na conferência do RBSCG, Will Prentice, arquivista da Biblioteca Britânica, comentou que, mesmo após a digitalização, era importante manter os registros originais, em parte porque eles podem atuar como um autenticador da cópia digital para garantir que a cópia não tenha sido alterada.
A edição da história para se adequar aos objetivos sócio-políticos contemporâneos não é um fenômeno novo, tentativas foram feitas para obliterar todos os registros do faraó Hatshepsut nos anos após sua morte em 1458 AC, e foto-manipulação remonta pelo menos tanto quanto a Guerra civil Americana.
Atualmente, existem muitos grupos que usam versões editadas da história para justificar suas posições políticas e, enquanto continuarmos a preservar e manter nossos registros físicos pode usá-los para demonstrar a verdade.
Infelizmente, será cada vez mais difícil separar o fato da ficção no futuro no início deste ano, foi lançado um simulador de fala que pode imitar qualquer voz e criar um vídeo sincronizado com os lábios.
No futuro digital, nossos padrões de evidência precisarão mudar, mas, ao olharmos para trás, estamos cada vez mais preenchendo as lacunas de nossa história.
